Sábado tarde, uma tarde
outonal com aquele solinho baixo e uma brisa amena. O que apetece? Vamos pegar nos miúdos e sair
de casa, vamos sem rumo… e fomos! Sem planos traçados, apenas passear e
aproveitar para estarmos juntos… uma REGRA: nada Centros Comerciais, seria um
atentado a uma excelente tarde de Outono… e fomos, sem rumo, dar a Alcochete,
apetecia-nos ver água e como as praias ainda ficam distantes, foi uma alternativa
que não obrigou a deslocações demoradas em que passamos mais tempo de carro do
que propriamente a usufruir do Meio, e ainda que o cenário de fundo fosse a
Cidade de Lisboa, há a Reserva Natural do Estuário do Tejo que nos permite observações
muito interessantes… um passeio pela zona ribeirinha de Alcochete… a imensidão do Tejo, as gaivotas, os
barquinhos, uma marginal bem agradável para um passeio sem rumo… os miúdos a
chutar bola, os pais a caminhar e na converseta …
O
parque infantil
Junto zona ribeirinha
há um parque infantil, curiosamente com elementos com muita ligação a Alcochete
e à tradição tauromática, um escorrega em forma de Touro, os baloiços com bandarilheiros… os miúdos quiseram ir brincar
para o parque, e lá fomos nós, ainda que a caminhada sem rumo estivesse a ser
tão boa…
O parque, a obedecer ao
mais do mesmo de todos os parques atuais, borracha e grades… uma “jaula
emborrachada”, em redor zona de bancos (supostamente para adultos) … sentei-me
e observei (mesmo que queira evitar faz parte de mim)… observei como mãe, como
cidadã, como profissional de educação… OBSERVEI E REFLETI…
Eu e o pai ficamos na
zona exterior ao parque, nos “bancos de adultos”, os miúdos foram experimentar
o parque… no interior do parque já estava algum “engarrafamento de adultos” ,
um casal com uma miúda com seus 7 anos que supervisionavam milimetricamente
todos os seus passos de braços levantados não fosse ela cair, uma senhora que
fazia também o acompanhamento de uma menina de cerca 5 anos, um casal e senhora
mais velha que se dividiram para acompanhar um menino com cerca 3 anos, uma
menina que brincava sem supervisão “sombra” (avó estava telefone num dos
bancos)com outro menino (pais estavam no exterior)… as crianças com supervisão “sombra”
não estavam a explorar o espaço livremente, nem podiam! E se uma dessas
crianças ficasse simplesmente sentada por uns segundos no cimo do escorrega (de
onde se pode observar o topo do Mundo) ou levava com os olhares “fulminantes”
da criança que atrás de si quer escorregar (obviamente de mão dada com o adulto),
ou levava um ralhete da sua sombra que também já olhava de “lado” para as
sombras da outra criança…
E a duas crianças que
brincavam mais livremente? A brincadeira era apanhar todos os paus e pauzinhos,
rebolarem-se no chão… mas lá vinha grito de aviso pai do menino “ Não te quero
deitado no chão”… mas estes eram rebeldes e apesar avisos, sobretudo pais do
menino pois a avó da menina estava na “dela”, iam contornando as regras
impostas no parque “ emborrachado” encontrando elementos que a Natureza tinha
mandado para lá, uns pauzinhos, umas folhas… que alegria explorar aqueles
tesourinhos… e quando o menino diz para a menina “ Já temos tudo, falta a areia”…
ela responde “ O QUE É AREIA??”… Fiquei verdadeiramente assustada com aquela
resposta... eu que fui da geração de bolinhos de areia, eu que chegava casa com
sapatos com quilos de areia… e pensei para mim “ EU FUI DA GERAÇÃO QUE BRINQUEI
LIVREMENTE”… que mundo é este? Temos toda a LIBERDADE mas não deixamos as
gerações mais novas serem livres… é verdadeiramente ASSUSTADOR!
Tal como refere o
professor Carlos Neto (recomendo leitura de todo o texto)
“
Estamos a criar crianças totós de uma imaturidade inacreditável”
( Carlos Neto: https://observador.pt/especiais/estamos-a-criar-criancas-totos-de-uma-imaturidade-inacreditavel/)
Pensamentos de mãe…
Tenho 2 filhos, um de 9
anos e um de 4 anos, e tal como todos os pais desejo o melhor para eles, desejo
que sejam crianças Felizes… mas sim também eu por várias vezes tenho
desempenhado o papel de “sombra”, mas podemos nós evitar que caiam? Que esfolem
joelhos? NÃO… faz parte da vida, e tentar evitar estas situações estamos a
criar crianças pouco autónomas, com receio de tudo e de nada… estamos a impedir
que sejam LIVRES! E há soluções? Na minha opinião passa por nós termos
capacidade de observar no que se passa à nossa volta e conseguirmos refletir
sobre o nosso papel como pais… foram os nossos pais maus pais por nos
permitirem “esfolar os joelhos”? Como mãe… assumo que não é fácil, não há
receitas…
Pensamentos
de educadora…
“ O que é Areia?”… que
assustador… mas é real… trabalhei com vários grupos que perante areia a atitude
era de nojo perante aquela textura “estranha”… e essa foi uma das razões que
quando avancei com Projeto Ninho dos Corujinhas tínhamos de ter uma zona de
Areia, a nossa “praia”… além disso frente ao nosso espaço há um campo que é um
verdadeiro tesouro, tem árvores, areia, pedras, paus e permite vivências únicas
aos pequenotes, de contato com a Natureza, por isso o ir ao terreno é algo que
faz parte da nossa rotina diária e observá-los nesse contexto é tão enriquecedor,
o correr naturalmente , caem e levantam-se, desenhar com paus, brincar com caracóis
como se de bonecos se tratassem… o simplesmente BRINCAR…
“Brincar não é só jogar com brinquedos, brincar
é o corpo estar em confronto com a natureza, em confronto com o risco e com o
imprevisível, com a aventura.” (Carlos Neto)
Que as novas gerações
tenham a possibilidade de simplesmente BRINCAR livremente e criar as suas próprias memórias, que nós, adultos “sombras”
tenhamos a capacidade de refletir sobre os nossos papéis, sobre as nossas
atitudes e as consequências no percurso de crescimento das nossas crianças…
finalizo com uma dúvida: E que pais serão estas crianças dos dias de hoje?