sexta-feira, 4 de janeiro de 2019


Minha querida escola da aldeia
Os ventos da Escola apontam para novos caminhos? E que tal começar a casa pelas fundições e não pelo telhado?
Escola Montinhos dos Pegos

Hoje foi dia de reunião escolar do meu pequeno maior que frequenta o 3ºano de escolaridade. E parece-me que há “ventos novos a soprar” sob influência do modelo finlandês. Estas reuniões são vividas por mim de duas formas, como mãe mas também da perspectiva de profissional de educação (até porque a minha formação inicial foi professora E.B-1ºciclo). Ainda na minha formação inicial ( há longos anos) já haviam bons exemplos de escolas em Portugal que seguiam caminhos diferentes do tradicional , escolas vistas como excepção (até colocadas um pouco à margem) mas referências para quem acredita numa educação de qualidade para todos (e não apenas para quem frequenta colégios privados). Um desses exemplos é a Escola da Ponte (situa-se em São Tomé de Negrelos, concelho de Santo Tirso, distrito do Porto)

“A organização que esta Escola põe em prática inspira uma filosofia inclusiva e cooperativa que se pode traduzir, de forma muito simplificada no seguinte: todos precisamos de aprender e todos podemos aprender uns com os outros e quem aprende, aprende a seu modo no exercício da Cidadania.”(http://www.escoladaponte.pt)



Como profissional de educação, esta escola tem sido para mim uma referência de qualidade pelo projeto, pelo empenho da equipa, pelo trabalho desenvolvido em parceria com as famílias, e principalmente pelo que considero ser o principal objetivo de todos os níveis de ensino, o respeito por cada criança, pelos seus interesses, pela pessoa que cada um é… por um interesse em que cada um cresça e aprenda com qualidade… Crescer Feliz!

Mas há outros exemplos de qualidade em Portugal, então porquê apontar o foco para a Finlândia se em Portugal temos bons exemplos? Modas? Interesses económicos?

Lamentavelmente o sistema educativo em Portugal está doente, rege-se por rankings, programas a mudar constantemente, por professores cada vez mais desiludidos (e por muito Amor que se tenha à profissão, não é suficiente para um sistema que se rege por interesses políticos e não educativos).

p.s: ISTO NÃO É UMA REFLEXÃO POLITICA ( é a junção do que vou assistindo como mãe e como profissional de educação)



Os ventos soprarem rumo à mudança é algo positivo, mas para se mudar tem de se perceber que caminho se quer percorrer, não vamos ali à Finlândia trazer a receita e aplicar. A mudança tem de começar desde a Creche, quando se começa uma casa não é pelo telhado que começamos pois não? Aliás os bons exemplos que temos em Portugal não aconteceram de um dia para o outro, exige reflexão, exige diálogo, exige formação, exige compromissos entre várias partes envolvidas.

Retornando à minha formação inicial como professora E.B-1ºciclo, a experiência que tive a dar aulas foi muito reduzida, de apenas 3 meses, e ainda bem que fui e vivi aquela experiência. Eu que adorava o caminho de formação que tinha feito, tinha certeza que tinha nascido para ser professora, bastou-me estes 3 meses para acontecer a desilusão. Deparei-me com um sistema envelhecido cheio de vícios … se calhar tive azar no local onde fui colocada… hoje, considero que foi o melhor que me aconteceu… eu que nunca aspirei a ser a Senhora Professora (estatuto), aspirei a entrar num sistema educativo e contribuir com qualidade para o percurso de formação das crianças... e é possível, há muitos bons profissionais a fazê-lo ( e ainda bem)… mas não pode o nosso sistema educativo andar conforme os ventos sopram… e todos nós testemunhamos que assim o é…

Um momento de mudança que considero extremamente negativo foi a construção das Mega escolas, unicamente em nome da contenção de custos ( que duvido que tenha dado resultados esperados), eu fui do tempo da escola da aldeia, ainda bem… faz parte das minhas boas memórias… o ir a pé para a  escola, a rua que ia ficando cheia das crianças que se dirigiam para a escola, o brincar livremente, o baloiço que me bateu na cintura marcando-me (saudavelmente ), os tacos do chão de madeira… a escola da aldeia permitia a nós crianças construir as nossas memorias através deste viver tão bom e faz parte de cada um de nós, e fazia parte de cada “terriola”… E nos dias de hoje? Edifícios gigantescos, sem espaços exteriores de qualidade, com mais conflitos… é como se as escolas se tivessem transformado nos “ Shoppings da Educação ou Deseducação”…

Finalizo esta reflexão esperando que os ventos soprem para uma mudança de qualidade que deve desde logo começar na Creche, e que o principal objetivo seja que cada criança Cresça Feliz!

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