Minha querida escola da aldeia
Os ventos da Escola apontam para
novos caminhos? E que tal começar a casa pelas fundições e não pelo telhado?
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Escola Montinhos dos Pegos |
Hoje foi dia de reunião
escolar do meu pequeno maior que frequenta o 3ºano de escolaridade. E parece-me
que há “ventos novos a soprar” sob influência do modelo finlandês. Estas
reuniões são vividas por mim de duas formas, como mãe mas também da perspectiva
de profissional de educação (até porque a minha formação inicial foi professora
E.B-1ºciclo). Ainda na minha formação inicial ( há longos anos) já haviam
bons exemplos de escolas em Portugal que seguiam caminhos diferentes do
tradicional , escolas vistas como excepção (até colocadas um pouco à margem)
mas referências para quem acredita numa educação de qualidade para todos (e não
apenas para quem frequenta colégios privados). Um desses exemplos é a Escola da
Ponte (situa-se em São Tomé de Negrelos, concelho de Santo Tirso,
distrito do Porto)
“A organização que esta Escola põe em prática inspira uma
filosofia inclusiva e cooperativa que se pode traduzir, de forma muito
simplificada no seguinte: todos precisamos de aprender e todos podemos aprender
uns com os outros e quem aprende, aprende a seu modo no exercício da Cidadania.”(http://www.escoladaponte.pt)
Como
profissional de educação, esta escola tem sido para mim uma referência de
qualidade pelo projeto, pelo empenho da equipa, pelo trabalho desenvolvido em
parceria com as famílias, e principalmente pelo que considero ser o principal
objetivo de todos os níveis de ensino, o respeito por cada criança, pelos seus
interesses, pela pessoa que cada um é… por um interesse em que cada um cresça e
aprenda com qualidade… Crescer Feliz!
Mas há
outros exemplos de qualidade em Portugal, então porquê apontar o foco para a
Finlândia se em Portugal temos bons exemplos? Modas? Interesses económicos?
Lamentavelmente
o sistema educativo em Portugal está doente, rege-se por rankings, programas a
mudar constantemente, por professores cada vez mais desiludidos (e por muito
Amor que se tenha à profissão, não é suficiente para um sistema que se rege por
interesses políticos e não educativos).
p.s: ISTO
NÃO É UMA REFLEXÃO POLITICA ( é a junção do que vou assistindo como mãe e como
profissional de educação)
Os ventos
soprarem rumo à mudança é algo positivo, mas para se mudar tem de se perceber
que caminho se quer percorrer, não vamos ali à Finlândia trazer a receita e
aplicar. A mudança tem de começar desde a Creche, quando se começa uma casa não
é pelo telhado que começamos pois não? Aliás os bons exemplos que temos em
Portugal não aconteceram de um dia para o outro, exige reflexão, exige diálogo,
exige formação, exige compromissos entre várias partes envolvidas.
Retornando
à minha formação inicial como professora E.B-1ºciclo, a experiência que tive a
dar aulas foi muito reduzida, de apenas 3 meses, e ainda bem que fui e vivi
aquela experiência. Eu que adorava o caminho de formação que tinha feito, tinha
certeza que tinha nascido para ser professora, bastou-me estes 3 meses para
acontecer a desilusão. Deparei-me com um sistema envelhecido cheio de vícios …
se calhar tive azar no local onde fui colocada… hoje, considero que foi o
melhor que me aconteceu… eu que nunca aspirei a ser a Senhora Professora
(estatuto), aspirei a entrar num sistema educativo e contribuir com qualidade
para o percurso de formação das crianças... e é possível, há muitos bons
profissionais a fazê-lo ( e ainda bem)… mas não pode o nosso sistema educativo
andar conforme os ventos sopram… e todos nós testemunhamos que assim o é…
Um
momento de mudança que considero extremamente negativo foi a construção das
Mega escolas, unicamente em nome da contenção de custos ( que duvido que tenha
dado resultados esperados), eu fui do tempo da escola da aldeia, ainda bem… faz
parte das minhas boas memórias… o ir a pé para a escola, a rua que ia ficando cheia das
crianças que se dirigiam para a escola, o brincar livremente, o baloiço que me
bateu na cintura marcando-me (saudavelmente ), os tacos do chão de madeira… a
escola da aldeia permitia a nós crianças construir as nossas memorias através
deste viver tão bom e faz parte de cada um de nós, e fazia parte de cada “terriola”…
E nos dias de hoje? Edifícios gigantescos, sem espaços exteriores de qualidade,
com mais conflitos… é como se as escolas se tivessem transformado nos “
Shoppings da Educação ou Deseducação”…
Finalizo
esta reflexão esperando que os ventos soprem para uma mudança de qualidade que
deve desde logo começar na Creche, e que o principal objetivo seja que cada
criança Cresça Feliz!
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