sábado, 7 de novembro de 2020

VOAR DO NINHO… de Coruche até onde a Imaginação nos levar!!

 


 A manhã está agradável, temos planeado ir ao campo… começa a preparação: ir à casa banho, beber água, comer uma bolachinha, descalçar sapatos de interior, calçar sapatos do exterior, vestir casacos , fazer o comboio ( e sim vamos em fila pois estamos a passar lado de uma estrada com algum movimento carros e o ir em fila permite-nos caminhar com mais segurança). Saímos ao portão, do lado direito temos a  nossa vila de Coruche, do lado esquerdo temos zona mais rural… seguimos para o “ nosso” campo… demoramos cerca de 5 minutos a chegar, incluindo as paragens “ Sapatos” ( quando sai sapato do pé paramos, e são algumas paragens)… retomamos… e chegamos!  O “ nosso” campo pertence a uma quinta vizinha do Ninho, é um espaço muito agradável com muitos tipos de árvores, há paus, pinhas, pedras, areia, erva, folhas e muitos elementos que as crianças gostam de explorar… é um espaço que já faz parte da vida do grupo…temos a sala, o parquinho, o campo, a vila… temos o dentro dos portões e o fora dos portões … e é nestes espaços que diariamente vamos DESCOBRIR, EXPLORAR, APRENDER…CRESCER!

 










Como educadora de infância sempre gostei sair “porta fora”, fosse em parquinho, fosse em corredores, fosse em campo… quanto mais espaços maior a oferta de oportunidades de descoberta… lembro-me do meu primeiro ano em Creche, num espaço novinho em folha, mas que não era suficiente, e comecei a ir para o pinhal ao lado, depois a ir até à quintinha de uma vizinha… depois quando mudei espaço e vim para centro da vila, comecei a circular no bairro no lado exterior do edifício da instituição … era tão usual ouvir “ nunca paras quieta?”…  NÃO! A riqueza destes momentos era tanta, era o contato com o “ mundo lá fora”, era aqueles olhinhos pequeninos a absorver o tanto que se passava à sua volta, era o cumprimentar as pessoas com que nos cruzávamos, era o andar, era o correr, era o cair, era o levantar… por isso, e apesar de toda a logística que implica o SAIR , as vivências que temos com as crianças minimizam isso e para mim como educadora era um privilégio observa-los nestes momentos  e estar ao seu lado, e também eu crescer ... e são essas vivências que fazem parte de mim e do caminho que percorro...

 

Ninho dos Corujinhas, um ninho aberto para o MEIO

Por vezes perguntam-me que metodologia seguimos no Ninho e eu respondo “ aquelas que proporcionarem momentos de CRESCER FELIZ aos nossos Corujinhas”… e esta resposta é dada sem qualquer receio pois, enquanto profissional de educação, acredito que o ponto de partida é ter em conta cada criança, o grupo, os seus interesses, os seus não interesses (pois têm toda legitimidade para não gostar), o Meio, as famílias. E sim temos metodologias que nos inspiram mas quando nos propomos a seguir apenas uma estamos a limitar-nos e corremos risco de estar a “copiar” algo que pertence a uma outra realidade que não a nossa… AQUI, estamos em Coruche, que é uma junção de campo e vila, que tem uma Identidade composta por vários espaços, tradições , histórias, gentes… e por isso o nosso caminho no Ninho tem de ter em conta essa mesma Identidade  do nosso Meio… por exemplo um elemento natural muito apreciado e que exploramos muito é a CORTIÇA, pois Coruche é a Capital Mundial da Cortiça, valorizar o que é nosso é criar ligação da criança com o Meio que a rodeia.



Vamos ao Campo?

As idas ao campo fazem parte do nosso plano semanal, seja para desenvolver o Projeto TOCA A MEXER com o professor de ginástica, seja integrado nos temas que vamos desenvolvendo, ou seja para BRINCAR (tem mesmo grau de importância de todos momentos referidos).

·        Quando chegamos ao campo…

Assim que chegamos ao espaço o “comboio descarrila” e cada criança movimenta-se livremente, uns  mantêm-se juntos, outros preferem estar sozinhos… a minha postura é manter-me mais afastada deixando-os estar o mais livremente possível, não estarem dependentes de mim e escolherem o que querem fazer. Curiosamente nos primeiros momentos a tendência é para correrem de um lado para o outro, mas depois começam a centrar-se em certos locais, uns apanham folhas, outros apanham azeitonas, outros fazem batalhas com paus, uns esgravatam na terra (…) e eu ora vou observando, ora vou integrando algumas brincadeiras quando sou solicitada…






Os primeiros passos no campo…

Nas primeiras vezes que fomos ao campo o que observei na maioria das crianças foi muita inibição, ao correr caiam muito, em terrenos menos planos tinham muita dificuldade em movimentar-se, não queriam sujar as mãos ou a roupa (…), e tudo isto era prejudicial pois impedia-os de serem autónomos, de simplesmente estarem de um modo livre e sem regras… e por isso começamos pouco a pouco… ir ao campo regularmente, deixa-los estar, correr com eles, não fazer drama das quedas (para saber levantar tem de se cair)… e hoje o modo como estão no campo é totalmente diferente pois já é um espaço nosso e já se movimentam com Liberdade, e quando têm alguma dificuldade procuram superar pelos seus meios, ou ajudando-se uns aos outros, mas a fase inicial foi muito importante para que cada um conquistasse a sua segurança.

Aprendizagens …

O campo é um espaço propício para aprender, para Crescer… a Brincar as crianças conversam, a Brincar inventam histórias, a Brincar fazem contagens (contar azeitonas; pedras, paus…)… a Brincar cantam às árvores, às folhas, aos passarinhos… a Brincar transformam-se em passarinhos ou folhas a voar… a Brincar escalam verdadeiras montanhas ou correm verdadeiras maratonas … a Brincar desenham com paus verdadeiras obras de arte… a Brincar aprendem LIVREMENTE … e a Natureza é um espaço de excelência para que isso aconteça.

 




 

 

 

 



 

 

Num mundo de” pernas para o ar”

O mundo de hoje está completamente mudado, devido ao Covid 19 temos de nos proteger… mas proteger não implica deixar de Crescer!

Desde que reabrimos o Ninho dos Corujinhas procuramos manter as nossas rotinas o mais normal possível, e sim, há medidas de segurança que temos de ter em conta, pelas crianças, por nós, pelas famílias , mas isso não implica deixar de ESTAR… as crianças crescem a cada dia e precisam de momentos de DESCOBERTA, de EXPLORAÇÃO, de PARTILHAS… momentos com vivências reais… de que me serve falar de Outono se nem em folhas posso tocar… o Outono não se ensina, vive-se, tal como todas as aprendizagens acontecem através do contato com o real. 



Temos privilégio de estar situados numa zona que nos permite movimentar-nos com segurança, raramente nos cruzamos com pessoas no percurso do Ninho ao Campo, e ainda que a logística de descalçar e calçar seja trabalhosa, vale a pena… aquele momento em que chegamos e as crianças correm em total Liberdade é muito especial, é para isto que estamos lá, para viver momentos significativos com eles… e sim, temos Medo, por eles, por nós , pelas famílias deles e as nossas, mas não podemos deixar esse medo vencer pois seria retirar-lhes o DIREITO que têm de crescer saudavelmente e seria percorrer um atalho e não o NOSSO CAMINHO!

Que este tempo de tantas mudanças não seja desculpa para NÃO ESTAR… que não deixemos o Medo vencer pois corremos risco de nos tornar meros depósitos de 4 paredes… que sejamos capazes de, apesar de tudo, CRESCER FELIZES!


AQUI...

 DESCOBRIMOS... PARTILHAMOS... POMOS CONVERSAS EM DIA... EXPLORAMOS... DESENHAMOS OBRAS DE ARTE COM PAUS... SALTAMOS À ERVA... VIAJAMOS NO BALÃO MÁGICO...

AQUI CRESCEMOS FELIZES dentro e fora do NINHO!!