domingo, 2 de outubro de 2022

MANEL… PODEMOS SER TEUS AMIGOS?

 



Um destes dias chegou-me um pedido, se podia receber, durante alguns dias, o Manel na minha sala de JI. O Manel é primo da Nôno, uma menina da nossa sala, e no final das suas férias de Verão vinha passar uns dias a Coruche e chegou-me este pedido. Eu e o grupo já conhecíamos o Manel pois ocasionalmente vinha buscar a prima, mas eram encontros  rápidos e de pouco contato. O Manel é uma criança com necessidades especiais, eu não sabia bem quais, mas pela observação havia algumas caraterísticas que eu já conhecia

 E o pedido… estamos em Agosto há uma redução no grupo pois ainda há crianças de férias, mas… eu estava com MEDO, sim MEDO… de não conseguir dar uma resposta de qualidade às necessidades do Manel…mas havia a outra parte de mim ( a pessoal e a profissional) que queria muito aceitar este DESAFIO porque antes de tudo o Manel é uma criança que como todas as crianças tem DIREITO à sua infância.

 E o Manel veio passar uns dias conosco… mas antes de chegar houve um primeiro contato com os pais, a Filipa e o Vasco, que me falaram do Manel e me explicaram alguns cuidados que deveria ter com ele, enquanto conversávamos, observava o Manel a brincar no parquinho, já no final da conversa, antes de irem embora, dirigi-me a ele e o Manel sorriu para mim, e era tudo o que eu precisava, aquele sorriso substituiu o Medo pelo Acreditar que “ Todos Juntos Vamos Conseguir”

A PREPARAÇÃO

Com a equipa:

As informações dadas pelos pais foram passadas a toda a equipa quer nível alimentar, como de higiene, como também relativamente a algumas caraterísticas suas. Afinal, o  procedimento foi o mesmo que temos com todas as crianças que recebemos pela primeira vez na nossa Instituição.

 

Com as famílias do grupo de sala:

Como responsável da sala, e uma vez que iriamos receber uma criança no grupo por apenas uns dias, e como seria uma situação excecional pois o grupo já está completo, achei que deveria informar as famílias das crianças que fazem parte do grupo, informando que o Manel, é uma criança com necessidades especiais e iria necessitar de um apoio mais individualizado por parte da equipa de sala.

 

Com o grupo de sala

Em reunião de grupo comecei por falar do Manel, o primo da Nono que já tínhamos visto algumas vezes, e disse-lhes que ele viria passar uns dias ao Ninho. Expliquei-lhes que o Manel é uma criança como eles mas que iria precisar da nossa ajuda pois havia algumas coisas que ele não conseguia fazer sozinho, e por isso mesmo pedi a ajuda de todos. Nesta primeira conversa não houve muitas reações, foi algo encarado com naturalidade que se traduz no “ Está bem!” dito por uma das crianças.

 

 

O MANEL CHEGOU…

Reuni com o grupo na sala com o Manel no meu colo, nele observavam uma criança que não fala, que tem uma tosse agressiva à qual dá a volta e passa, que de vez em quando baba e por isso tem usar um babete, que de vez em quando tem umas ranhocas grandes, que tem alguns movimentos meio descoordenados dos braços e das pernas. Neste primeiro momento de encontro com o Manel vi reações diferentes nos olhares deles, nuns vi o Medo que eu própria tinha tido, noutros vi o olhar curioso, noutros vi ciúme em vê-lo no meu colo, noutros vi naturalidade… e comecei por lhes contar o que eu senti quando conheci o Manel, sim eu tinha sentido Medo, mas não era preciso ter medo porque o Manel é uma criança como eles e apenas precisa da nossa ajuda para algumas coisas, mas afinal não somos todos iguais porque somos pessoas e não somos todos diferentes porque todos precisamos de ajuda nisto ou naquilo?

 

“ Ana eu também fui diferente naquilo da alimentação” (disse a Beatriz, uma criança que teve nos seus primeiros anos de vida algumas restrições alimentares)

E com esta frase da Beatriz começamos a explorar as diferenças de cada um… uns maiores outros mais pequenos, uns meninos outras meninas, uns cabelo curto outros cabelo comprido..

E sentir… sentimos todos da mesma maneira?

NÃO! Às vezes sentimos Alegria, outras vezes Medo, outras vezes tristeza, outras vezes isto e outras vezes aquilo…

E assim começaram os primeiros passos da nossa relação com o Manel…



No nosso parquinho o Manel correu de um lado para o outro e teve logo a companhia da Sofia, a primeira criança a aproximar-se dele, a abraçá-lo e a levá-lo para as brincadeiras. Descobrimos que o Manel gosta muito de correr e corre rápido;

Um dos cuidados a ter era garantir que o boião da água do Manel tinha de estar num local que ele soubesse e acessível, e se ele o deixasse caído no chão voltávamos a pôr no local; tínhamos de vez em quando de lhe oferecer o boião ( este cuidado foi imediatamente interiorizado por todos);

Ao almoço enquanto comíamos o Manel tinha ser ajudado por um adulto a comer a sopa, e ele gostou muito da sopa da nossa Manela ( o que deixou os adultos tão felizes pois era o maior receio);

Quando o Manel tem ranhoca chamamos os adultos, se tem baba nós ajudamos e limpamos ao babete ( imediatamente passou a ser algo natural)

A tosse do Manel que na primeira vez nos deixou espantados pois parecia que se estava a engasgar, mas o Manel é perito em “dar a volta” e ficar ok ( passamos a encarar com normalidade)

 

 As nossas atividades…e agora o Manel pode acompanhar-nos?

Insuflável com piscina:  que saltos maravilhosos e molhadinhos demos todos juntos!
























Parque Infantil: vamos fazer umas corridinhas Manel? E ele corre bem rápido


No Campo: Mexer nos paus e folhas, correr e sentir o vento na cara…
























Na Quinta do Vale: descobrir, tocar, correr pelo vasto campo, piquenicar…

 


 

 


Na praia Fluvial do Rio Sorraia: e fomos todos a banhos e brincamos no areal!

 


 

 

No hóquei: sobre rodas lá fomos nós!



 

 

 

 

 

 

 


Os biciclistas: na bicicleta cedida pelos pais  Maria Luísa (sala 2) , com a Ana Luísa ao guiador lá fomos nós… tantos sorrisos de muita Alegria!


 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Festa da Espuma: a Sofia a fazer penteados ao Manel que observava aquela invasão de espuma meio desconfiado;

 



 

 

Na biblioteca: Era uma vez… Orelhas de Borboletas… uma história sobre diferenças com a qual reforçamos TODOS IGUAIS, TODOS DIFERENTES! E assim damos inicio ao projeto de sala , que comece a Aventura!!

 



O Manel vai embora pois a sua escola está prestes a começar… mas é um até já pois em breve havemos de nos  reencontrar ! No momento do Até já os olhares são de tristeza e saudade do nosso Manel que já faz parte do nosso grupo… o NOSSO AMIGO MANEL que nos provou que É POSSÍVEL… que não podemos deixar os nossos Medos serem maiores que o Acreditar… que todos os seres humanos têm DIREITO A VIVER!!

 



O que eles dizem do Manel?

O DESAFIO: fazer um desenho EU E O MEU AMIGO MANEL… um percurso que começou no receio pela DIFERENÇA que observaram no Manel e neste momento temos o assumirem-no como Amigo que partilha todos os momentos connosco… a isto se chama INCLUSÃO…

Que a Sociedade consiga fazer este percurso que este grupo de crianças fizeram porque na maioria das vezes complicamos o que pode ser tão SIMPLES!

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 E assim começamos uma nova AVENTURA na nossa sala, o Projeto TODOS DIFERENTES, TODOS ESPECIAIS… em breve contamos tudo!

OBRIGADA MANEL por nos dares o privilégio de sermos teus amigos! OBRIGADA mãe Filipa e pai Vasco pela confiança...

 

 

* O Manuel tem uma doença rara, que se caracteriza por falta de material genético no cromossoma 2 que se multiplica por todas as células do seu corpo, dando origem ao atraso no desenvolvimento, ausência de fala, epilepsia e outras patologias associadas.


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

VAMOS RETORNAR… E VAI CORRER TUDO BEM!



Retornar às rotinas…

Fomos de férias e agora é tempo de retornar… férias é tempo de lazer, de não haver rotinas tão definidas, de ir dormir tarde e acordar quando apetecer, ou de nem sequer dormir a sestinha, de comer quando queremos e o que queremos… é tempo de Pausar para Retornar!

E agora vamos RETORNAR?

Eu, a tua educadora, dividi o meu tempo entre o FINALIZAR o ano letivo, o PAUSAR e o preparar o RETORNAR. 

 

FINALIZAR o ano letivo

Os dias que antecederam o fecho da instituição ficaram marcados pelo desenvolvimento normal de cada projeto de sala com atividades que privilegiaram o VIVER O VERÃO de um modo lúdico e divertido. 




Com crianças nas instituições devia ser proibido organizar/limpar salas, pela sua segurança e porque se estamos em funcionamento que sentido faz estar com salas totalmente vazias, brinquedos lavados e arrumados?

E sim foi uma realidade que vivi e que me envergonha porque estamos a assumir que estamos mas na realidade não estamos e isso afeta as crianças que vêm os seus espaços e rotinas alterados mas não para garantir o seu bem estar, afeta os profissionais pois não estamos focados no mais importante: as Crianças.

Assumindo que crianças e limpezas é uma junção impossível, vamos Encerrar uns dias, metade dedicada à organização do espaço e preparar o RETORNAR e metade para a equipa PAUSAR…




O meu PAUSAR


Fui de férias, peguei no meus , desliguei e Fui… em tempo de Pausa é tempo de abastecer da Energia necessária para o Retornar… é tempo do nosso tempo, de refletir, de novas ideias surgirem, de nos perguntarmos o que podemos fazer mais e melhor, do refletir sobre o caminho que percorremos e do que queremos percorrer… e ainda há tempo de recolher algum material que vamos usar na nossa prática pedagógica, porque este pessoal da Educação é assim, tudo tem uma utilidade… e para mim, confesso, não consigo desligar a educadora da pessoa, mas não encaro isso como algo negativo, ambas fazem parte de quem sou e se são amigas, ainda melhor!

















RETORNAR

Antes do regresso das crianças, a equipa vai preparar o espaço, planeamos esses dias de (re)adaptação, no dia que chegarem é para terem os seus espaços prontos e ser dia de ESTAR e não dia de arrumações.

Como profissional de educação como me vou preparar para o Retornar? Começo por me preparar a mim, vou retornar aquele que é mais que um emprego, é algo que faz parte de mim, e sim foi bom Pausar mas também é com muito entusiasmo que vou regressar. E considero que é importante a imagem que o profissional passa para as crianças, sabemos que os primeiros dias não são fáceis, foram dias de estar com a família, dias sem rotinas, umas crianças virão entusiasmadas por voltar outras não quererão voltar… mas o primeiro passo é dos profissionais de educação, se também nós formos com atitude de “estou aqui mas queria estar de férias” então não vai correr bem. Pode não evitar a resistência ao regresso de algumas crianças, mas acho que o melhor é o nosso sorriso ativado, muita tranquilidade, o nosso colo pronto a acolher, uma planificação que procure envolver as crianças de um modo divertido, respeitar modo como cada criança nos vai chegar, respeitando o tempo de cada uma… e focarmo-nos no ESTAR…



As famílias, os nossos principais parceiros…

Nada se consegue sem a parceria com a família, e todos temos como principal objetivo que as nossas crianças CRESÇAM FELIZES!

O Meio é pequeno e vamo- nos encontrando aqui e ali, e vamos ouvindo o receio de algumas famílias “ AI OS PRIMEIROS DIAS, VAI SER DIFICIL!”…

VAI!! Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”… vai ser difícil mas, como sempre, vamos trabalhar em equipa, os profissionais de educação e as famílias . Começamos por fazer um exercício com as famílias , estiveram de férias e agora vão começar a trabalhar como se sentem?? E agora metam-se no lugar das crianças, elas sentem o mesmo que nós, mas felizmente podem manifestar esse SENTIR sem que sejam julgadas… pai ou mãe imaginem o vosso primeiro dia de trabalho, não vos apetece chorar perante o chefe e dizer “ Quero continuar de férias”?? Mas a vida não é assim, e ainda bem, a vida tem momentos de PAUSAR e tem momentos de TRABALHAR, tem momentos de não rotinas e momentos de rotinas… deve ser assim com as crianças e com os adultos.

 

VAMOS FACILITAR O RETORNAR?? (algumas sugestões)

- FALAR COM AS CRIANÇAS… com as mais pequenas ir relembrando a equipa pedagógica; os amiguinhos; os espaços; mostrar fotografias dos mesmos;

- RETOMAR ROTINAS uns dias antes: rotina sono ( pôr sono em dia em horários mais próximos do quotidiano da creche/JI); rotina da alimentação

- TRAZER OBJETO QUE TRANSMITA SEGURANÇA: um brinquedo, uma foto que a criança traga de casa pode fazer a diferença e dar-lhe a confiança tão necessárias nestes primeiros dias de retornar

- NÃO CEDER NA PERMANÊNCIA NA CRECHE/JI- as crianças vão acionar as suas estratégias para convencer os pais a não as deixarem no espaço… se é para ficar, fica!... pais que ainda não tenham retornado ao trabalho têm tendência a ceder, mas a verdade é que há um dia em que vão retornar e a criança terá de ficar, por isso ceder acaba por não ser benéfico, uma situação é a criança não retornar logo pois as férias ainda se vão prolongar, outra situação é trazer mas depois acabar por levar, isso vai levar a criança a utilizar recorrentemente essa estratégia o que não é benéfico para ela, para os pais, para o grupo;

- TRANSMITIR CONFIANÇA: profissionais de educação e pais são modelos para as crianças, se estiverem desmotivados para retornar então vão passar isso mesmo para as crianças, por isso é um momento em que todos têm de estar “ vestidos com o seu melhor sorriso”; 

… VAI TUDO CORRER BEM!!!

 Mesmo que tenhamos de ver algumas lágrimas, alguma resistência nas crianças, todos estamos cá para um RETORNAR o mais tranquilo possível, por mais difícil que seja para todos os intervenientes, estes também são momentos de crescimento para TODOS em que o principal continua ser o mesmo, garantir que as crianças CRESCEM FELIZES!!